A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES
(JANEIRO-2024)

Antes de falar sobre a IA na formação dos professores, quero explicar como vejo erros e omissões nesta formação, independente da inteligência artificial. Erros esses, desde o que se propôs na Constituição de 1988.

Os pontos que narro, em seguida, são particularmente aqueles voltados à educação pública, já que a educação privada resolve seus problemas de forma mais particularizada, envolvendo sempre grandes investimentos.

O que se propõe na referida constituição, teria que ser uma solução de Estado, e não a forma como é executada atualmente, gerando grandes disparates entre as unidades da federação.

Comecemos pelo artigo 6º da constituição, que diz: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho e o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta constituição”

Como se vê, a educação é um dos itens fundamentais das obrigações do Estado. Ou seja, “não há exercício da cidadania sem a formação educacional…”

Nos artigos 205 a 214 da constituição de 1988, o tema sobre educação é abordado nos detalhes de sua execução, onde podemos destacar nos artigos 205 e 206, conforme abaixo:
Artigo 205
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade…
Artigo 206
Entre vários itens, destaco a obrigação - “Igualdade de condições para acesso e permanência na escola”

Podemos citar, também, algumas emendas importantes, feitas em 2006 e 2009. Em 2006, houve o objetivo de valorizar os profissionais de ensino, melhorando a sua capacitação. Já, em 2009, o artigo 214 passou a incluir:
“A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias…”
Esses planos educacionais deviam ter um detalhamento técnico para evitar viéses políticos, que são impregnados nesses planos. Uma boa oportunidade para se fazer isto é na construção do Plano Nacional de Educação para a década 2024/2034.
Antes de um novo plano, seria importante ter havido alguma emenda destacando a importância do desenvolvimento do ensino técnico, que vem diminuindo no Brasil. Entretanto, mesmo entre as vinte metas do proposto PNE-2024/2034, não se observa um grande detalhamento pelo ensino técnico, a não ser a proposição da meta 11 em aumentar o investimento neste setor.

Somente uma década depois de promulgada a Constituição de 1988 foi criado o Fundef, visando investimento no ensino fundamental e, somente em 2007, foi criado o Fundeb para financiar o desenvolvimento do Ensino, num modelo tripartite: União, Estados e Municípios.

Nota-se um grande desinteresse nas ações sobre a educação, na forma que foi destacada na constituição de 1988.Este desinteresse afetou a organização da União, como verdadeira controladora da educação no país, tanto na parte de investimentos, como na parte administrativa. Os planejamentos decenais citados na constituição não foram eficazes no desenvolvimento da educação no país. Cito tudo isso, para ter uma base, antes de falar sobre a minha experiência no ensino médio, que exerci como professor do Estado do Rio de Janeiro.

A minha vivência no setor de educação é de escola pública. Sendo assim, baseado no que citei sobre a Constituição de 1988, é necessário uma reformulação total no ensino público brasileiro. Não é modificando o Ensino Médio, como atualmente se propõe, que vai ser mudado o panorama educacional do ensino público no Brasil. É necessário uma reforma desde a base, conforme alguns países já estão fazendo, inclusive dando destaque ao ensino técnico.

Embora alguns estados, como o Ceará, estejam se destacando no aproveitamento educacional, é necessário que a União exerça, de fato, o planejamento e o controle dos planos educacionais estipulados, considerando sempre as características regionais.

Um ponto chave na educação pública é fazer o professor trabalhar, desde a educação básica, num local único, não tendo que se diversificar em vários ambientes de trabalho. Isto traz um benefício tanto para os alunos como para o professor. Esta dedicação exclusiva, acompanhada de recursos materiais e financeiros necessários, cria excelente ambiente para a evolução educacional. Em qualquer nível, fundamental, médio ou superior, a dedicação exclusiva do professor trará os melhores resultados possíveis.

Outro ponto importante se refere às condições de trabalho. É indispensável que condições adequadas nas salas de aula, nos banheiros, nos refeitórios, na segurança, nos meios de acesso à escola, enfim, no ambiente geral, relacionado ao processo de ensino, estejam funcionando plenamente dentro do que estiver planejado.

Por último, mas atualmente extremamente importante, é preciso que os recursos tecnológicos, como computadores, salas de informática e aplicativos de ensino estejam disponíveis para a utilização dos alunos e professores.

Resumindo, a dedicação exclusiva do professor, as condições de trabalho e os recursos tecnológicos são, a meu ver, os pontos que precisam ser controlados pela União, de acordo com as características de cada unidade da federação. Assim, as unidades da federação exerceriam tal planejamento nos seus diferentes municípios, adaptando o que fosse necessário às características e necessidades de cada município. O importante é a União não perder o controle do que for planejado, exercendo suas funções administrativas e financeiras de maneira adequada.

Visto isto, que chamo de erros (ou omissão) no planejamento educacional do Brasil, vamos nos deter, especificamente, na formação do professor, o que nos remete às universidades de licenciatura, já raciocinando com o emprego da IA (inteligência artificial), na referida formação pedagógica. Porém, antes de falar sobre a formação dos professores, vamos nos deter um pouco no assunto IA.

Algorítimos estatísticos de análises e previsões já existem há longo tempo. Com o avanço dos recursos tecnológicos, em tratar com rapidez grandes arquivos de dados (‘BigData’), passou-se a processar tais algorítimos de forma muito mais eficaz, daí expandindo-se, cada vez mais, esses tipos de algorítimos de análises, permitindo, inclusive, com a rápida interpretação dos dados, a geração de resultados de criação, o que é chamado de IA generativa.

Com o avanço, cada vez maior, dos processadores, os algorítimos passarão a processar inúmeros tipos de dados, seja textual, numérico, audível ou visual e assim, surgirão novos tópicos na administração da informação. Isto, com certeza, terá reflexos na formação do professor. Vamos abordar, a princípio, as características importantes da IA e, a seguir, a influência da mesma na formação do professor.

Devemos observar que os algorítimos utilizados para o que chamamos de IA, dependem primordialmente da fonte dos dados. Por exemplo, se para uma pesquisa oncológica, for usada uma base de dados de um importante centro oncológico, a interpretação dos dados, pelos algorítimos, produzirá um resultado muito mais confiável, do que se for utilizada uma base de dados de fontes duvidosas, obtidas na Internet.

Mantendo-se, em mente, a importância das fontes com as ferramentas de IA, podemos automatizar tarefas, personalizar atividades, diversificar abordagens de temas e explorar mais a criatividade. A adoção da IA, integrada à educação, traz a necessidade de se repensar no papel dos educadores, segundo Rita Bessoonauth, diretora da UNESCO: “ A IA deve ressaltar os valores humanos na reflexão, no pensamento crítico e na ética”

Além dessas transformações, os professores devem cultivar habilidades como a criatividade e a capacidade de adaptação, já que um dos desafios na formação dor professores, diante da IA, é a resistência à mudança da visão tradicional do ensino. A IA obrigará a se ter uma maior integração nas disciplinas, de forma interdisciplinar. Proporcionará, também, uma aprendizagem mais personalizada, adaptada às necessidades individuais de cada aluno.
O papel atual do professor deverá ser modificado de um mero transmissor de informação para um mediador a apoiador no processo de aprendizagem.

Em 2019, a UNESCO publicou o Consenso de Pequim, propondo conselhos e recomendações para os desafios da aprendizagem. Dessa forma, é recomendado aos professores, mentalizar o ser humano, observando a condução da ética, tendo conhecimentos fundamentais de IA, assim como habilidades e objetivar essa tecnologia para a resolução de problemas.

Baseado na minha experiência como docente, faço algumas observações, na formação dos professores, diante do emprego da IA, em relação a:
1-Uso crítico
É necessário desenvolver na formação o uso crítico e consciente da tecnologia, procurando informar e mostrar aos seus alunos quando, e como podem ser usados os algorítimos, sem causar qualquer tipo de dano ou má interpretação.
2-Personalização do ensino
Conhecer métodos que ajudem a identificar as necessidades particulares de alguns alunos, com a tecnologia de IA, sem que haja prejuízo no aprendizado coletivo.
3-Automação na avaliação escolar
Embora,com a IA, seja possível a expansão da correção automatizada de provas, mais eficiente do que a forma "perguntas x respostas", sempre será necessário a verificação do conhecimento do aluno, de forma discursiva.
4-Acessibilidade
Com o desenvolvimento de "chatbots" educacionais, impregnado de IA, o aluno poderá ser atendido fora da sala de aula, a qualquer hora e lugar.Portanto, é necessário, ao professor, ter pleno domínio dessas ferramentas para saber se, de fato, o atendimento está bem programado, evitando qualquer tipo de desinformação.
5- Interdisciplinidade
A formação do professor, diante do emprego da IA, deverá proporcionar uma boa noção da conexão de sua disciplina, com outras correlatas. A extensão desta conexão pode atingir até outras culturas e idiomas.
6-Gestão escolar
Também a formação do professor, com a utilização de IA, obriga ao professor estar preparado para trabalhar num ambiente escolar bastante automatizado. Desta forma, todos os controles administrativos(presença de alunos, eventos, provas, avaliações,...) precisarão ser comandados pelo professor, daí a necessidade de pleno conhecimento desses recursos tecnológicos

Ainda na formação dos professores, alguns cuidados devem ser tomados, considerando o risco da utilização de IA:
1-Plágio
O não conhecimento das fontes de dados, pode vir a facilitar o plágio em informações geradas.
2-Desinformação
Da mesma forma, a utilização de bases de dados duvidosas, pode gerar a disseminação de informações falsas.
3-Desigualdades
A personalização do ensino, feita em grande aprofundamento, pode gerar uma desigualdade educacional.
4-Dependência
A utilização excessiva dos atendimentos automatizados("chatbots"), pode vir a prejudicar a criatividade do aluno, devido ao excesso da utilização da tecnologia. Neste ponto deve-se fazer uma ressalva. Sem desmerecer o uso do ChatGPT na educação, existem plataformas mais dedicadas ao aprendizado, tais como:ADAPTA-certificado pela moodle, portanto deve ser considerado, KHAN ACADEMY-pelo grande apoio ao professor,TECHY-especializada em planos de aula e ENSINA.AI-com facilidades para ensino personalizado, entre outras plataformas.
5-Falta de reflexão
A formação do professor deve prover métodos para que o aluno, mesmo com toda a aprendizagem mecânica da IA, o professor não permita a falta de reflexão do aluno sobre aquilo que estiver sendo ensinado.

Concluindo, faço-me lembrar da minha formação de professor de Matemática, onde nos quatro anos estudei os assuntos relativos à cadeira de Matemática, e os assuntos relativos à cadeiras relacionadas(Física, Pedagogia, ...). Ao final do quarto ano, eram feitas as provas práticas (aulas em classes do Colégio de Aplicação), necessário para a obtenção do diploma.
Com o que foi dito, este modelo poderá ser mantido o mesmo, ou seja, os quatro anos de formação e as provas práticas. Porém, em todo este período, deve-se atentar para o que foi citado neste texto, devido a um estágio, cada vez mais desenvolvido, do emprego da inteligência artificial.

É extremamente importante, que os professores atuais e, principalmente, os que estão se formando ou aqueles que desejam ser professor, atentem para o que foi observado neste texto. A tecnologia de IA será cada vez mais avançada, proporcionando recursos diversos. É necessário saber como utilizar bem esses recursos para que os resultados sejam sempre benéficos.

Importante, antes de finalizar, observar que nada encontrei de significância sobre a IA, nas metas propostas pela CONAE (Conferência Nacional de Educação) no planejamento nacional da educação (PNE) para a década de 2024/34.

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